por Siegfied Camana
A Ética
O chamado à ética não é casual. Vivemos num período um tanto atormentado. O sistema capitalista tende continuamente a efetuar o lucro máximo, enquanto um desastre econômico de nível mundial se anuncia há tempos. Acham-se justificativas para a guerra. A política, a justiça e as instituições, de modo geral, não recebem a confiança dos cidadãos.
Será culpa dos cidadãos? As palavras de Bertold Brecht, que, na ocasião da revolta dos operários de 17 de junho em Berlim, escrevera com evidente sarcasmo: “… se um governo não está satisfeito com o povo, então eleja um outro povo…” podem nos fazer sorrir, mas não podem nos tranqüilizar. A situação é preocupante pela apatia difusa na maior parte das pessoas em relação às questões essenciais que se referem à proteção ao meio-ambiente, ao respeito pelos animais, à tolerância pelo “diferente”, à saúde pública, à dignidade humana, à paz social, aos direitos garantidos pela Constituição, ao amor pela própria profissão, à justiça igual para todos, à moral…
Os princípios da Arquitetura Bioecológica são baseados em uma filosofia válida para todos os aspectos da vida. O primeiro princípio de tal “filosofia da vida”, que regula os ciclos biológicos e compreende as leis naturais, é a ética.
A Arquitetura
Somos voltados ao setor que compete a nós, projetistas: ao edifício, à arquitetura. Quem tem consciência, assume a responsabilidade.
A ANAB nasce em 1989 a fim de tentar dar uma resposta global ao estado de degradação e destruição progressiva do meio-ambiente. Tem por objetivo propor uma releitura radical da Arquitetura baseada na ética e na sustentabilidade, e restituir ao ponto central do percurso de pesquisas culturais, profissionais, tecnológicas, projetuais de quem faz da Arquitetura o conhecimento de trabalhar para o homem e sua saúde psicofísica, de agir para o equilíbrio do meio-ambiente.
Quem faz Arquitetura tem uma grande responsabilidade no confronto dos seres vivos. Propomos uma Arquitetura que recomece a aprender da natureza os métodos, os ritmos, os percursos a fim de construir os lugares onde vivemos melhores, cidades mais saudáveis mais belas, um ambiente que recomece a tender ao equilíbrio.
O logo da ANAB, que tem um merecido reconhecimento, é uma feliz elaboração gráfica das pinturas rupestres dos camunes (antigo povo de Val Camonica – Torino – Itália) e representa a casa como o arquétipo da vida humana em acordo com a natureza. A casa é ao mesmo tempo árvore, sol, homem.
Construir e habitar
Cada atividade construtiva é fundamentalmente um ato de violência contra a natureza. Ao construir nós devemos estar atentos a “fazer a mediação” entre nossas exigências efetivas e o respeito ao ambiente entendido no sentido mais abrangente (natural, construído, social, histórico, psicossomático…).
O habitar nos envolve também como o usuário consciente da casa. O “high tech”, a eletrificação excessiva, a “inteligência” de nossas casas representa um realmente progresso? Este progresso não é também a causa de nossa degradação?
A casa ecológica
A casa é sempre o lugar que nos permite proteção e amparo contra os agentes atmosféricos e as agressões do mundo externo, agressões naturais no passado (clima, animais, inimigos…), cada vez mais artificiais hoje (poluição, stress, ruído, pobreza social…).
A casa e o ambiente são cada vez mais artificiais e dependentes de um processo tecnológico distorcido, tumultuado e rapidíssimo que fez com que na Itália tenha sido construído nos últimos 60 anos mais do que tudo o que foi construído nos 5000 anos precedentes.
O estado da degradação ambiental resultante destes 60 anos da atividade frenética é reconhecido por qualquer um e exige uma mudança de rota urgente que continue a garantir o desenvolvimento social e econômico da sociedade colocando, no entanto, em primeiro lugar a qualidade em relação à quantidade.
A casa ecológica é a casa sem emissões, que não consome energia e que otimiza o uso dos recursos naturais e renováveis. A casa não sustentável consome os recursos naturais de maneira linear produzindo resíduos e poluição; a casa ecológica, ao contrário, utiliza os recursos de maneira integrada aos ciclos da natureza, sem causar danos.
Há anos nós tentamos evidenciar a conveniência também econômica dos investimentos na casa ecológica. De fato, a primeira vila ecológica em Tubinga foi construída por uma agência de seguros; uma outra vila perto de Viena foi construída por um importante grupo bancário austríaco.
Na Europa Central a tendência do mercado da construção civil é cada vez mais é orientado ao ecológico e as companhias de seguro têm farejado o negócio que representa uma casa ecológica: a casa saudável representa também uma apólice de vida mais remunerativa!
Construir de maneira bioecológica significa fazer a medicina preventiva e investir de maneira inteligente. Construir de maneira convencional torna-se, pela força das coisas, mais e mais irresponsável e antieconômico.
Arquitetura, empreendedorismo, sustentabilidade e ética
Construir de maneira sustentável impõe a todos os envolvidos, do projetista ao usuário, do administrador público ao empresário, do produtor ao varejista, um forte empenho ético e um profissionalismo adequado.
O impacto ambiental da indústria da construção civil se explicita em:
1 – Ocupação territorial e a conseqüente poluição urbana, hoje injustificável com a estabilidade demográfica de mais de um decênio na Europa.
2 – Uma forte periculosidade das técnicas construtivas e dos materiais utilizados há algumas décadas na construção: milhares de produtos cada vez mais sintéticos a base de substâncias petroquímicas de reconhecida toxicidade que tornam o canteiro de obras uma instalação produtiva de alto risco.
3 – Um consumo descontrolado de recursos não renováveis, em particular petróleo e água (cerca de 50% dos recursos extraídos da natureza são destinados, na Europa, à indústria da construção civil).
4 – Um maciço consumo de energia de origem fóssil (cerca de 45% da energia produzida na Europa é utilizada no setor construtivo).
5 – Uma produção de poluição atmosférica crescente e responsável pelos fenômenos de poluição global como o efeito estufa e o buraco na camada de ozônio (cerca de 50% da poluição atmosférica é produzida na Europa pelo setor construtivo).
6 – Uma produção maciça de escórias e refugos (cerca de 50% dos refugos produzidos anualmente em Europa provêm do setor construtivo, na Alemanha chega a 70%).
Em face desses dados, torna-se evidente que as escolhas que cada dia a administração pública de centenas de pequenos e grandes municípios na Itália realizam por meio da atividade profissional de milhares de técnicos e operários tornam-se fundamentais. Estas escolhas exigem uma postura diferente de responsabilidade ética nos setores que determinam a qualidade do meio-ambiente.
Anab
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