Estudos indicam que passamos 90% de nosso tempo em locais fechados, onde a qualidade do ar pode ser pior do que a do ambiente externo. O ar interno pode chegar de 10 a 50 vezes mais poluído do que o externo, mesmo nas grandes cidades. Poluentes internos vão de toxinas (como o amianto) a formaldeídos, encontrados em materiais de construção e causadores de alergias como fungos e bactérias.
Mais de 70.000 novos compostos químicos foram introduzidos ao meio ambiente. A agência ambiental americana EPA (Environmental Protection Agency) os chama de uma “sopa química”, na qual vivemos, trabalhamos e brincamos. Menos de 10% destes materiais foram testados para compreender os efeitos crônicos e reprodutivos, bem como as mutações genéticas que poderiam causar. Sua combinação pode ser o motivo para o aumento de doenças autoimunes, como vitiligo e diabetes.
Por outro lado, atualmente construímos espaços cada vez menores. Combine atmosferas reduzidas com mais químicos, e o resultado será o aumento de toxinas encontradas em ambientes internos.
Muitas disfunções orgânicas tem sido atribuídas a Síndrome do Edifício Doente. Hoje, Os edifícios contêm milhares de formulações químicas e combinações, onde não há forma de saber os efeitos dessas substâncias em nosso corpo.
Contudo, existem maneiras de se combater as implicações destes poluentes na vida cotidiana. Alguns lugares devem ser tratados com maior cuidado para que sejam “ambientalmente amigáveis” e saudáveis. Sendo o fígado responsável por desintoxicar o organismo durante as 8 horas de sono, o dormitório deve ter o ar mais puro possível.
Um purificador de ambiente pode em muito ajudar a qualidade do ar interno. Segundo o Engenheiro Thales Cavalcanti, da Techdomus, “Em uma casa inteligente, o sistema de aspiração central pode ser muito benéfico à qualidade do ar interno, melhorando em 47% a qualidade deste em relação ao uso de um sistema convencional”. Diferentemente dos aspiradores de pó portáteis, este sistema funciona por uma série de tubulações que ligam os ambientes a uma máquina filtrante colocada em área externa. Desta forma, todo o ruído e pó são realmente removidos da atmosfera, podendo ser 5 vezes mais potente do que um aspirador convencional. Os portáteis, apesar de possuírem filtros, devolvem cerca de 30% do pó novamente ao ambiente.
É igualmente importante fazer o uso de materiais não tóxicos, que contenham baixos níveis de Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), incluindo tintas, carpetes, vernizes, tecidos, estofados, etc.
Os COVs são uma categoria de milhares de compostos químicos diferentes, como formaldeído e benzeno, que evaporam rapidamente ao ar. São muito utilizados na fabricação de plásticos, nylon, tintas, colas, thinners e solventes, sendo imediatamente inalados. Causam tontura, dores de cabeça, irritação na garganta, olhos e nariz ou asma, podendo também gerar câncer, danos ao fígado, rins e sistema nervoso, além de estimular alta sensibilidade a outros produtos químicos.
Uma boa ventilação para a troca do ar interno é fundamental. Usando estratégias adequadas, é possível melhorar a qualidade do ar em 80%.
O PVC (poli cloreto de vinil) tem sido apontado como outro material danoso à saúde por sua longa e ampla emissão química ao longo de sua validade, desde a fabricação e uso até a queima final. Alguns elementos de PVC usam Ftalatos (DEHP) em sua composição (encontrados em muitos produtos médicos, brinquedos e materiais de construção) e têm sido relacionados à asma e irritação dos brônquios.
Alguns metais pesados continuam a ser empregados como estabilizadores e outros aditivos em materiais de construção, inclusive no PVC. Chumbo, mercúrio e estanho, por exemplo, são potentes neurotoxinas geradoras de malformação do cérebro em fetos e crianças.
Em tecidos, alguns tratamentos anti-chamas (halogenados e brominados) e antimanchas (ou Perfluorocarbonos, PFC´s. São os conhecidos Teflon e Scotchguard, entre outros.) também tem se mostrado prejudiciais à saúde.
Por isso, pensando na qualidade do ar interno, exija dos fabricantes as informações de seus produtos e siga as dicas abaixo na hora de especificar:
Madeiras e derivados com ou sem baixa emissão de formaldeídos
Tintas e vernizes a base de água ou com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis (COVs);
Cera de abelhas ou óleos impregnantes naturais;
Materiais livres de PVC;
Materiais livres de metais pesados e Ftalatos;
Materiais livres de anti chamas halogenados e brominados;
Materiais livres de antimanchas com perfluorobarbonos;
Sistemas de ventilação (natural ou mecânica) que permitam a quantidade de trocas de ar necessárias às atividades do ambiente;
Sistema de aspiração e limpeza eficiente para a total retirada de poeira, fungos, bactérias e ácaros.
Estes cuidados podem contribuir imensamente para a saúde dos ocupantes, melhorando o bem-estar e a produtividade das pessoas, colaborando também para com o meio ambiente, considerando-se que a Qualidade do Ar Interno é um dos aspectos da Arquitetura Sustentável.
Por Daniela Corcuera, coordenadora de cursos.
ANAB