Mesquita de Bobodjulasso, no Burkina Faso

“O prazer intenso que as civilizações tradicionais têm em manipular o ornamento (…) traduz-se no gênio criativo, artístico e decorativo das arquiteturas de terra: gravado nas paredes ou aplicado em relevo, tanto é abstrato, gestual, geométrico, simbólico ou figurativo”.

A arquitetura tradicional de terra é resultado do acumular de saberes milenares, em que o homem utiliza o material retirado da natureza e o aplica para construir os seus edifícios segundo técnicas que tiram partido das suas características e potencialidades.

Essas técnicas mudam de local para local, não só em termos construtivos, mas sobretudo estéticos, assumindo cada uma delas uma identidade geográfica própria, que relaciona a sociedade, o edificado e o meio ambiente, e une o homem, a construção e a natureza.

É na plasticidade do material que o homem exprime toda a sua criatividade.

 “Os métodos de utilização da terra permitem não dissociar a materialidade e a espiritualidade do ato de construir, pois este material permite a simultaneidade e a síntese das ações construtivas e artísticas. (…) É numa arquitetura escultural de terra crua que floresce a voluptuosidade dos arredondados, o erotismo e a sensualidade das formas.”

A cidade de Bam, no Irão

A utilização da terra como material de construção remonta a tempos antiquíssimos, pensando-se que esta técnica se tenha generalizado há cerca de 10.000 anos a partir do Médio Oriente.

A terra enquanto material de construção encontra-se presente por todo o mundo, impondo-se como processo construtivo tradicional dominante, pela facilidade com que é aplicada, pela resistência que confere aos edifícios, pelo conforto que proporciona e pelas possibilidades plásticas que oferece.

Estima-se que atualmente mais de 1/3 dos habitantes do planeta vivam em construções de terra, material que se mostra eficaz em regiões com condições climatéricas muito diversas, desde as mais frias e pluviosas, às mais quentes e secas.

Em Portugal o material de construção dominante até ao século VIII era a pedra, apesar de anteriormente já existirem “bolsas” isoladas de utilização da terra. Com a chegada dos Árabes, mestres da construção com terra, o seu uso generaliza-se e passa a ser o material de construção dominante.

Habitações em Sirigu, no Gana

A terra, material de construção, refere-se ao solo não orgânico existente entre a terra vegetal e a rocha, localizado a uma profundidade que varia de local para local.

É constituída principalmente por argila, silte, areia e gravilha, aos quais se encontram associados em percentagens mínimas, os metais, sais solúveis, como sulfatos, nitratos e cloretos, e matéria orgânica.

A argila e o silte constituem o ligante do material, que como o nome indica lhe confere o poder de agregação, enquanto a areia e a brita constituem o seu inerte, fundamental para que contraia e dilate, por força das variações de temperatura ou em presença da água, sem sofrer fissurações. O equilíbrio entre ligante e inerte na constituição da terra é assim fundamental para a sua eficácia em termos construtivos.

A natureza do silte é determinante na composição da terra, já que, enquanto sedimento constituído por quartzo, mica, feldspato e agregados limoníticos ou argilosos, pode apresentar um carácter arenoso ou argiloso, influenciando a componente inerte ou a componente ligante do material.

A dosagem dos seus componentes para fins construtivos varia entre 15 a 18% de argila, 10 a 28% de silte e 55 a 75% de areia e 0 a 15% de gravilha.

Ghadamés, na Líbia

Muitos autores utilizam o termo barro ou argila para designar o material, sendo mais correctas as designações terra, lama ou solo, pelo facto de se tratar de facto de um composto em que a argila constitui uma percentagem relativamente pequena do mesmo.

Existem diversas formas de utilizar a terra enquanto material de construção. Nos elementos publicados pelo grupo CRATerre, foram sistematizadas 18 técnicas fundamentais detectadas um pouco por todo o mundo.

No entanto, existem dois processos universais para construir com terra, a taipa e o adobe, cuja escolha não depende de uma opção do construtor, mas das características do solo, já que cada um deles utiliza o material de forma diferente para o por em obra de forma adequada, conforme as suas características.

Em Portugal, para além destes dois sistemas que utilizam a terra enquanto material estrutural, existe uma outra forma de aplicar a terra em paredes, através do enchimento de uma estrutura de madeira, sob a forma de tabique, a que se chama engradado.

Execução de uma parede de taipa no Alto Atlas marroquino

A taipa é o processo indicado para solos pedregosos, grossos e secos, geralmente pobres em argila. O chamado betão de terra, utilizado na taipa, é muitas vezes corrigido com a adição de areia, caso se verifique que é demasiado forte, ou com argila ou cal, quando é demasiado pobre.

A utilização da cal no composto para a taipa resulta na chamada taipa militar, que, conforme o nome indica, era frequentemente utilizada na construção de fortificações.

A taipa baseia-se na compactação do material, que é apiloado conjuntamente com água dentro de um taipal. Cada metro cúbico de terra apiloada reduz o seu volume em cerca de 1/3, e quanto melhor compactada é, maior é a resistência conferida à parede que forma. O taipal vai sendo deslocado ao longo das paredes, formando blocos que se dispõem com as juntas verticais descentradas.

http://aventar.eu/2012/03/23/arquitectura-de-terra/

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