Fabrico de blocos de adobe em Sheikh Zayed, na Faixa de Gaza

O adobe é o processo utilizado em solos arenosos, finos e úmidos, geralmente ricos em argila, próprios dos vales e zonas ribeirinhas. Tendo em conta que o processo de secagem do adobe origina a fissuração do material, pelo seu elevado conteúdo de ligante e de umidade, o material é armado através da incorporação de fibras vegetais suficientemente finas para não originar vazios no seu interior, como sejam as fibras de arroz, sisal ou cânhamo, de modo a que não fissure durante o processo de retração ao secar.

Ksar Ouled Soltane, na Tunísia

A colocação do material terra em obra implica assim que as suas características sejam melhoradas, reduzindo a sua porosidade e permeabilidade, e aumentando a sua resistência mecânica. Chama-se a este processo estabilização da terra, que, em termos práticos, procura reduzir o volume de ar existente, colmatá-lo, e reforçar a ligação entre as partículas.

A estabilização da terra obtém-se de diversas maneiras:

Estabilização por compactação, que no fundo é o processo que está na base da construção em taipa, e que consiste na redução do volume do material através da sua prensagem. Este tipo de estabilização começou a ser muito utilizada a partir dos anos 70 também no fabrico de blocos de adobe, utilizando-se prensas manuais, apropriadas para a autoconstrução, ou prensas hidráulicas, muito utilizadas em fabriquetas ou em projetos coletivos.

Estabilização por armação, utilizada geralmente no fabrico blocos de adobe, que consiste na incorporação de fibras orgânicas no material, numa quantidade não superior a 3%, aumentando a sua resistência à tração, aligeirando a sua massa e evitando a sua fissuração.

Estabilização por correção de granulometria, que como o nome indica, consiste em conferir ao material uma homogeneidade ao nível do tamanho das partículas que o constituem, acrescentando areia à terra grossa e gravilha à terra fina.

Estabilização físico-química, que consiste na introdução de elementos ligantes e hidrófugos, como o cimento, a cal, ou o betume, e alguns estabilizantes de origem vegetal ou animal, como sejam a goma-arábica, o látex, o óleo de coco, o óleo de algodão, o sangue de boi, o sebo de porco ou de carneiro, as cinzas de madeira ou a urina. Recentemente utilizam-se também alguns detritos industriais, como ácidos, resinas ou silicatos.

Shibam no Yemen, conhecida como a Manhattan do Deserto, onde os edifícios atingem os 11 pisos

A espessura das paredes das construções em terra, tratando-se de edifícios de utilização corrente, varia entre os 40 e 60 centímetros. Esta espessura é obtida no caso da taipa pelo comprimento das agulhas do taipal, ou seja, das peças que unem as pranchas laterais. No caso do adobe a espessura da parede obtém-se através das dimensões dos blocos e relação entre o seu comprimento e largura, sendo comum em Portugal blocos com 40x20x15cm, que podem ser dispostos de várias formas na parede, seja de forma transversal ou longitudinal aos pares.

As paredes de terra são construídas sobre uma fundação de pedra, que deve elevar-se acima do nível do terreno, evitando o seu contacto com o solo e eventuais efeitos de subida das umidades por capilaridade.

Em edifícios de múltiplos pisos, a espessura das paredes diminui com a altura, garantindo uma maior resistência nos pisos inferiores e permitindo o apoio dos pavimentos nos ressaltos entre pisos.

Coberturas planas de palha e terra no Alto Atlas marroquino

As soluções tradicionais para coberturas são geralmente baseadas em estruturas de madeira, sobre as quais se coloca um revestimento.

Nas coberturas inclinadas utilizam-se preferencialmente revestimentos com telhas cerâmicas ou colmo, enquanto nas coberturas planas a estrutura é coberta com canas, sobre as quais se colocam fibras vegetais e terra, constituindo uma superfície visitável. Como acabamento pode também ser aplicada uma tijoleira de barro cozido.

Muitas vezes verifica-se a construção de coberturas abobadadas ou de cúpulas, formadas por ladrilhos de terra cozida.

A observação de regras na construção das fundações e coberturas, que garantam a proteção as paredes de terra dos efeitos das chuvas, é determinante para a sua longevidade. Diz o povo que “para durar séculos, basta às casas de terra terem um bom chapéu e boas botas”.

Execução de um reboco ”à mão” na India

Geralmente as paredes são acabadas com a aplicação de um reboco, constituído por uma argamassa de características idênticas à da utilizada no suporte, mas com maior percentagem de areia, para que absorva os movimentos de dilatação e contração sem fissurar. Ao contrário, a argamassa utilizada para ligar os blocos entre si, seja nas juntas da taipa ou no assentamento dos blocos de adobe, é mais rica em argila que a do suporte para garantir o seu poder ligante.

Reboco esgrafitado num interior em Timimoun, na Argélia

Os rebocos de cal exigem um cuidado especial na sua aplicação, já que a cal não endurece por secagem, mas por carbonatação, em contato com o dióxido de carbono do ar. Para garantir a carbonatação o reboco deve ser executado em 3 camadas de 0.5 cm cada, chapisco, enchimento e acabamento, o que tem também como vantagem o fato de eventuais fissuras durante o processo de retração se desencontrarem, evitando a entrada de umidades.

O reboco deve ser reparado ou substituído periodicamente, já que constitui a camada de choque da parede, sendo também o elemento que mais facilmente se degrada.

Por sua vez o reboco é muitas vezes caiado, com a utilização do chamado leite de cal, operação que tem uma função não só de limpeza e desinfecção da parede, mas também de consolidação da própria argamassa.

Reboco de bolas de terra projetadas em Timimoun, na Argélia

As argamassas de reboco são também geralmente estabilizadas com materiais hidrófugos, com vista à sua impermeabilização. Em Portugal é comum a adição dos desperdícios de lagares de azeite, sebo de porco ou carneiro, ou sangue de boi.

A título de curiosidade refira-se que no Sul da Argélia utiliza-se um reboco não estabilizado, constituído por bolas de terra projetadas na parede.

 http://aventar.eu/2012/03/23/arquitectura-de-terra/

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