Lançar a semente em terreno fértil, não basta; é preciso regar, tirar as pragas, proteger do vento e do granizo; podar e adubar; conversar e agradecer o privilégio de participar desse milagre… esse é o alimento da Alma; então essa semente nos presenteia com o fruto que alimenta o corpo e fecha o círculo do ofício de CUIDAR.
Quando a fêmea leva comida ao bico do filhote, ou quando o macho protege a cria dos predadores; ou quando a mãe aconchega o filhote entre as patas, para que ele conheça o poder do Amor e não tema o chamado da Vida… eles estão cuidando, para que a Vida continue seu ciclo sagrado e vença a Morte e o Abandono.
Cuidar é um ato de Amor, não aquele amor romântico de Neruda; mas o Amor que é potência transformadora, aquele amor que nasce da Compaixão e da Responsabilidade. O Amor que sustenta e possibilita o ofício de existir, com toda
sua magia e dor. O Amor compromisso com nós mesmos e com o outro, com a dignidade, a memória, o respeito às limitações, esperança, sonhos, ilusões, crenças… e feridas abertas daqueles que compartilham conosco este tempo e espaço.
Nada no Universo sobrevive sem o ato de Cuidar, tudo que vive precisa de cuidados, tudo que vive precisa de alguém que cuide.
O bebê precisa da mão que leva papinha à boca; o jovem precisa do olhar atento que transforme seu medo em desafios e força; o idoso precisa do braço que ampare seus passos e do ouvido atento que ouça suas histórias, ainda que contadas milhares vezes.
Vivemos um tempo onde a hipervalorização das individualidades – “sou dono de mim”; “eu não preciso de ninguém”; “empreendedor de si mesmo”… – e tudo isso pode nos levar ao pedregoso terreno da auto suficiência e solidão.
Como construir a Cultura do Cuidado, se o cuidador é invisível e nunca é convidado para a Festa da Vida?
Precisamos do outro para mantermos a sanidade, para produzirmos beleza, para experimentarmos o milagre do encontro e permitirmos que o olhar do outro melhore e amplie o nosso; para ressignificarmos a Vida e checarmos nossas certezas voláteis.
Estamos todos conectados com tudo que pulsa, e esse é nosso maior tesouro e desafio… Mas a tarefa de cuidar para que esse tesouro não se transforme em pesadelo, esse desafio não se torne obstáculo intransponível está nas mãos de poucos.
É aquele que empresta o tempo que não tem; faz o que não sabe; abre mão de si mesmo para acolher o outro – seja gente, bicho, comunidade… e se alimenta de migalhas de gratidão e reconhecimento – “parabéns, obrigada por fazer o que eu não tenho tempo; você é um anjo, Deus vai te recompensar” …
O Cuidador é aquele que não pede – “Cuida de mim!” – porque já esqueceu que é humano e precisa de ajuda.
O cuidador está doente, abriu mão de si para ficar no lugar de alguém amado; está sozinho, nem sabe mais quem era antes de adoecer e os sintomas dessa doença são: solidão, culpa, remorso, insônia, medo, revolta, cansaço crônico, dores nos músculos e juntas, depressão, vazio, saudades…
Como se tudo aquilo que fazia sentido e sustentava a vida, de repente fosse implodido e todos os pedaços estão espalhados no chão, à espera de uma mão amiga que o ajude a recolher esses destroços.
Então vamos incentivar a cultura do cuidado, para que o cuidador familiar não seja mais invisível.
Somos habitantes de um planeta que é o nosso Lar; cada casa, cada cidade, país é apenas um cômodo desse imenso Lar, portanto somos uma família. Moramos no mesmo Lar e compartilhamos do mesmo ar e esperanças.
Cuidemos da nossa Família e vamos fazer do ato de estender a mão seja nosso gesto mais revolucionário e sagrado.
Míriam Morata, arquiteta e escritora
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