Educação Ambiental

Nunca o conhecimento e a educação foram tão importantes quanto no mundo atual. É evidente que para melhorar nossa qualidade de vida e crescer tanto material quanto moral e espiritualmente, temos que aprender a responder aos desafios que estão colocados nesse princípio de milênio.

E é nesse sentido que a Educação Ambiental, segundo a lei n° 9.795, de 27 de abril de 1999, é um componente essencial e permanente da educação Nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo formal e não-formal. Por seu caráter humanista, holístico, interdisciplinar e participativo a Educação Ambiental pode contribuir muito para renovar o processo educativo, trazendo a permanente avaliação crítica, a adequação dos conteúdos à realidade local e o envolvimento dos indivíduos em ações concretas de transformação da realidade.

Aquela forma de se pensar a ecologia como um conjunto de ações voltadas somente para o “verde”, ar e águas, está ultrapassada. Dando lugar a um pensamento mais integral, ou sistêmico, que identifica os meios ambientes, físico e social, como partes de um todo.

As finalidades desta educação para o ambiente foram determinadas pela UNESCO, logo após a Conferência de Belgrado (1975) e são as seguintes:

“Formar uma população mundial consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas com ele relacionados, uma população que tenha conhecimento, competências, estado de espírito, motivações e sentido de empenhamento que lhe permitam trabalhar individualmente e coletivamente para resolver os problemas atuais, e para impedir que eles se repitam”.

A educação ambiental objetiva sensibilizar os indivíduos para a importância do nosso patrimônio histórico e ecológico, possibilitando-lhes acesso à aprendizagem através da vivência e do contato direto com a natureza. Procura-se estimular a mudança de atitudes e hábitos através da compreensão dos limites e potencialidades de cada um, bem como pelo desenvolvimento da consciência ética, que possibilita as pessoas entender e respeitar mais a si próprias e ao planeta como co-existentes e interdependentes.

Ética e Sustentabilidade

“As ciências do meio ambiente estão à procura de uma nova síntese do saber e de uma nova prescrição cujo princípio será mais ecológico do que econômico e mais ético do que científico”. i]

Pierre Dansereau

Regulação para a sustentabilidade

As questões éticas e de valores humanos tornaram-se fundamentais para a política e para a gestão do desenvolvimento sustentável. Fundado na responsabilidade para com a coletividade humana e num sentido de solidariedade amplo, ele considera as relações de nossa espécie com as demais espécies vivas e com o ambiente que nos cerca.

A ética ambiental se traduz em normas e leis, que constituem pactos e compromissos a serem cumpridos por todos, para evitar que os conflitos e disputas sejam resolvidos de forma violenta. Leis são elaboradas, divulgadas, cumpridas, implantadas, revistas periodicamente. É relevante que sejam respeitados os pactos, acertos, compromissos e promessas firmados, e que se exerça a ética no cumprimento da legislação. Para tanto, quanto mais inclusivo for o processo de elaboração das normas e quanto mais representativos forem os atores envolvidos, maior será a sua legitimidade. Os procedimentos para a elaboração das normas e leis precisam ser transparentes e abertos.

Entretanto, num contexto de mercado liberalizado, existe a pressão para menosprezar o papel da regulamentação ambiental, considerada como freio e entrave ao desenvolvimento. Assim, os procedimentos de licenciamento ambiental passam a ser questionados, sugerindo-se entregar a regulação ambiental às forças de mercado, com os instrumentos da auditoria ambiental e da gestão internalizada pelas próprias empresas, no seu próprio autointeresse. Entretanto, ao procurar maximizar lucros de empreendimentos individuais e externalizar custos para o ambiente e a sociedade, o mercado é incapaz de garantir a sustentabilidade.

Sustentabilidade e conhecimento

O desenvolvimento sustentável, que perdure no tempo e beneficie a atual e as futuras gerações, necessita de sabedoria e conhecimento, para que as escolhas e decisões tomadas sejam responsáveis e para que não agravem os problemas que pretendem resolver.

A ignorância a respeito das conseqüências negativas das ações é o maior adversário do desenvolvimento sustentável. Tal ignorância pode produzir a irresponsabilidade das ações voltadas para resultados imediatos, mas que desprezam os custos de médio e longo prazos.

Os dilemas éticos necessitam de aporte de conhecimentos para que sejam resolvidos. Pierre Dansereau recomenda que a prescrição ética deve ser precedida pela prospecção ecológica. Isso significa que, antes de adotar um comportamento, é necessário municiar-se dos conhecimentos necessários para avaliar os riscos e impactos associados a tal atitude e certificar-se de que ela seja realmente a mais adequada.

Economia e ecologia: a econologia

A econologia[ii] propõe articular as políticas ambientais e as econômicas, e sinaliza vantagens econômicas e incentivos para cidadãos e organizações que adotem atitudes ecologicamente adequadas. As políticas de preços e indicações de mercado são instrumentos importantes para induzir escolhas dos cidadãos e consumidores. Ao embutir os custos ambientais reais dos produtos em seu preço e não subsidiar produtos cuja produção e consumo sejam insustentáveis, aproxima-se os custos econômicos dos custos ambientais integrais.

Instrumentos econômicos como os incentivos à reciclagem, o depósito diante da restituição de embalagens, bem como as ações de educação, informação, extensão e pesquisa são fundamentais para tornar conscientes os consumidores.

À medida que aumenta a importância de limpar o meio ambiente, no interesse da saúde e da qualidade de vida coletivas, cria-se um mercado de interesses econômicos em torno das oportunidades oferecidas. A questão ambiental passa a ser vista como imperativo do mercado, e além de ser preocupação ética, poética, romântica e de solidariedade social. Nesse quadro, quem produz precisa pensar na sua produção sem degradação ambiental, principalmente se quiser alcançar mercados internacionais.

A ação autointeressada ainda prevalece em nossa sociedade.[iii] Mas a concepção do que seja o autointeresse varia em função do grau de consciência e percepção de indivíduos ou organizações. Alguns conseguem perceber apenas o autointeresse imediatista, sem focalizar os efeitos colaterais negativos de uma ação. Outros têm uma consciência mais ampla e conseguem perceber que o autointeresse privado e particularista abarca também o interesse publico. A finalidade última da eco-ação é a melhoria ambiental para todos e o interesse público mais amplo. Mas o altruísmo, muitas vezes, constitui uma forma mais esclarecida de egoísmo.

A apropriação da causa ambiental por interesses privados pode deixar em segundo plano os interesses públicos e coletivos, negando assim o princípio norteador da eco-ação, voltada para servir.

Educação e consumo, pré e pós-materialismo

A educação do consumidor e a promoção de sua consciência ecológica profunda são passos significativos para mudar suas decisões de consumo. A consciência sobre os impactos dos hábitos alimentares pode promover mudanças nesse campo. A diferenciação entre necessidade básica e demanda supérflua ajuda a focalizar o que são reais necessidades de objetos, de serviços ou de informação, que tem um custo de produção.

A transmissão de valores ecológicos por meio das tradições espirituais pode facilitar mudanças de comportamentos em direção a padrões sustentáveis de consumo, cujas pressões sobre a natureza sejam suportáveis. Valores pós-materialistas ou neo-espiritualistas são necessários à civilização do século XXI, que exige práticas de consumo material sustentável para que a espécie humana possa sobreviver. Segmentos sociais distintos se orientam por pensamentos, idéias e teorias e praticam comportamentos e ações que podem ser pré ou pós-materialistas.[iv]

O meio ambiente sofre impactos do comportamento e das atitudes, dos estilos de vida individuais e sociais. Padrões de consumo de alimentos, de materiais de construção, de vestuário, de objetos que dependem de outros bens materiais para sua produção, produzem pressões sobre os recursos naturais. Assim, cada indivíduo, família, comunidade, país, sociedade, ou civilização é responsável pelo meio ambiente e pelos recursos naturais. Padrões de consumo insustentáveis já levaram ao colapso de civilizações e sociedades, e padrões de consumo sustentáveis caracterizam aquelas que perduraram por milênios, como algumas civilizações asiáticas e sociedades indígenas.

Vivendo no Canadá, um dos países mais ricos materialmente, Pierre Dansereau denuncia, entretanto, o conformismo e comodismo das camadas sociais materialmente afluentes e ricas, como sendo um dos motivos do desastre ecológico: “A maior catástrofe ecológica tem a ver com a tendência ao recolhimento no âmbito confortável da nossa própria prosperidade, através da nossa obstinação em perpetuar o elevado nível de vida que já alcançamos. Se não formos capazes de romper esta concha, de atenuar a pressão deste torno e de ajudar as outras nações, estaremos, nós mesmos, simplesmente condenados!”… “Para além do progresso tecnológico e das coações econômicas, como tomar decisões que estejam à altura do desafio moral? Tem-se falado muito em combater a poluição (sem rebaixar, entretanto, o nível de vida dos ricos!), e ao mesmo tempo não se tem encarado com a devida intensidade a linha de continuidade que associa a poluição à pobreza, à ignorância e à injustiça. Um mundo realmente novo deverá ser capaz de contemplar face a face a necessidade de se definir a crise planetária em suas dimensões morais, para além da análise científica e ecológica do abuso dos recursos da Terra.”[v]

Os padrões de consumo desiguais constituem um dos principais desafios para a sustentabilidade social e afetam a qualidade de vida e o conforto material, conforme atesta Christofidis: “As desigualdades no consumo mundial per-capita de grãos, indicam que um canadense, ou americano médio, consomem por mais de oito haitianos, acima de três brasileiros e cerca de duas vezes e meia acima da média mundial”.[vi]“O consumo de grãos por pessoa reflete um fator derivado que é o consumo de grãos através de consumo de alimentos de origem animal. Considera-se que uma das grandes formas de reduzir o consumo de grãos e elevar a eficiência no consumo de alimentos seria a de reduzir o consumo de carne e derivados, especialmente bovina e suína, pois cerca de 38% dos cereais colhidos são utilizados para alimentar animais, numa transformação pouco eficiente, pois: 1 kg de carne bovina é obtida pelo consumo de 7 a 14 kg de cereais pelo animal; 1 kg de carne suína necessita de 4 a 5 kg de grãos de alimento animal, enquanto;  enquanto 1 kg de carne de frango e de pescado é decorrente, de consumo pelo animal, de cerca de 2 kg de cereais”.[vii]

Notas

[ii] Termo cunhado por Eduardo Athayde e adotado pelo Worldwatch Institute.

[iii] Antigas filosofias espiritualistas pregam a ação desinteressada, e a realização das ações necessárias sem preocupar-se com o usufruto de seus resultados. Entretanto tal princípio é praticado apenas por indivíduos isolados, não constituindo ainda uma prática social disseminada, no atual estágio de desenvolvimento social e civilizatório.

[iv] A espiritualidade transformou-se num grande negócio, que movimenta vultosos recursos financeiros, da mesma forma como os negócios verdes ou os econegócios. O eco-businessequivale ao spiritual business pelo qual, por trás de um discurso pró-natureza ou pró-deus, estão interesses econômicos e comerciais.

[v] Pierre Dansereau, in Ecologia Humana , ética e educação, pg.300-301

[vi] CHRISTOFIDIS, Demetrios in Water, irrigation and the food crises, artigo no Water Resources Development Journal, Vol. 14, nº 3, 405-415, Carfax Publishing Ltd, UK, 1998.

[vii] CHRISTOFIDIS, idem ibidem.

Elaborado por Maurício Andrés Ribeiro – Autor de: Ecologizar, pensando o ambiente humano.

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roosevelt s. fernandes
14 anos atrás

O QUE PRECISA SER AGREGADO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO SÉCULO XX PARA OTIMIZAR SEUS RESULTADOS NO SÉCULO XXI?

Sugerimos aos interessados pelo tema acessar pesquisas realizadas com estudantes e professores (ensinos Fundamental ao Superior) brasileiros e portugieses através de http://www.pluridoc.com e, em seguida, pesquisando “roosevelt s. fernandes”. Os resultados e conclusões das pesquisas são uma excelente base para reflexão.

Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA
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