Biomimética: A natureza como modelo e medida
A palavra que vem do grego bios (vida) e mimesis (imitação) resume o simples conceito da Biomimética: a natureza como inspiração inventiva. Biomimética (imitação da vida) é o novo ramo da ciência dedicado a entender os princípios usados pela natureza e usá-los como estímulos para inovações. Essa área da ciência estuda estruturas biológicas, seus modelos, sistemas, processos e elementos aprendendo com a natureza a dar soluções sustentáveis para os mais variados problemas tecnológicos enfrentados pelo homem em tempos de alta tecnologia. Em outras palavras, analisa modelos já existentes em plantas, animais e outros organismos, e neles se inspira para resolver questões que surgem na mesa de trabalho de engenheiros, arquitetos, eletricistas, químicos e todos os tipos de inventores.
As inovações da natureza, que têm sido desenvolvidas a aperfeiçoadas continuamente por milhões de anos, fornecem um estoque inesgotável de ideias e soluções engenhosas. Além das contribuições às inovações tecnológicas, estas ideias têm contribuído também para a causa de proteção ambiental.
Muitos dos conceitos inovadores que os engenheiros e cientistas estão adotando da natureza correspondem ao princípio da sustentabilidade. A natureza sempre alcança seus objetivos com economia, com um mínimo de energia, conserva seus recursos e recicla completamente seus resíduos. Pesquisadores de diversas áreas estão estudando as soluções encontradas pela natureza e procurando adaptá-las na solução de seus problemas e na inovação de seus produtos.
Janine M. Benyus, escritora científica, considerada a mãe da biomimética defende em seu livro Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza que esta busca vem contra a tendência moderna de dominar ou melhorar a natureza, e se mostra como uma verdadeira revolução na interação Homem x Meio ambiente. “Essa respeitosa imitação é uma abordagem totalmente nova. Diferentemente da Revolução Industrial, a Revolução Biomimética inaugura uma era cujas bases assentam não naquilo que podemos extrair da natureza, mas no que podemos aprender com ela”, afirma.
“Por todo o período em que existe vida na terra, ocorreram milhares de extinções. Noventa e nove por cento de todas as espécies que já estiveram aqui estão extintas”, diz Janine. “Então, o que você vê agora são os sobreviventes, o 1% que venceu. E isso é porque os seus designs são elegantes, seus materiais leves e fortes, suas químicas são seguras. Ou seja, durante esse longo período de tempo, as espécies aprenderam a viver aqui, melhorando o lugar onde estão.”
Com a agressividade do desenvolvimento humano em relação à natureza em constante pauta na contemporaneidade, a biomimética ganhou força como uma efetiva mudança na vida moderna. Com raízes na simplicidade e aplicação pouco mais trabalhosa, a biomimética não assusta e assume grande potencial dentro do comportamento sustentável.
Os avanços já são notados em nosso dia a dia há bastante tempo, de maneiras mais singelas ou nas grandes evoluções sustentáveis. Para o cientista Stephen Wainwright, a biomimética se torna “a mais desafiadora e importante ciência biológica do Século 21”. Veja algumas criações que usaram o princípio da biomimética:
• Adesivos não-tóxicos: inspirados nas substâncias desenvolvidas por salamandras.
• Velcro: percebido pelo seu criador durante uma caminha, o velcro veio do estudo de pequenos vegetais de espinhos que ficaram grudados na calça durante o passeio.
• Construções Ecoeficientes: inspiradas nas casas de insetos como cupins, conseguem atingir uma eficiência energética maior em comparação as comuns.
• Tintas que facilitam a limpeza: a planta Lotus é conhecida por possuir mecanismos próprios de limpeza e inspirou a criação de tintas, ceras de aplicar em vidros e revestimentos de carros.
• Taxol: novo e promissor medicamento anticancerígeno, é encontrado na casca do teixo do Pacífico, planta originária do noroeste do oceano Pacífico.
E o sonho de Janine, então, tomou forma no AskNature.org, um site colaborativo cujo objetivo é tornar a biomimética disponível para todos. O caso do cimento é um entre as 738 estratégias inspiradas na natureza que, por enquanto, alimentam o site, lançado oficialmente em 20 de novembro. A idéia é que, a partir de agora, pesquisadores, engenheiros, biólogos, arquitetos, designers e outros possam se conectar, trocar informações e produzir colaborativamente. ”A informação biológica vai estar nas mãos dos designers que fazem nosso mundo”, comemora Janine.
Plantas, baleias e o homem-inventor. Se precisamos redesenhar o mundo criado pelo homem para que ele caiba dentro do mundo natural que lhe dá suporte, uma das melhores fontes de inspiração, defende Janine, é a própria natureza, que com 3,8 bilhões de anos de experiência descobriu o que funciona, o que é apropriado e o que perdura no tempo.
“Nesse tempo, a ‘vida’ aprendeu a voar, a circunavegar o globo, a viver nas profundezas dos oceanos e em cima dos picos mais altos, a produzir materiais miraculosos, a iluminar a noite, a apreender a energia do sol e a construir um cérebro autoreflexivo”, escreveu ela em 1997. ”Coletivamente, os organismos conseguiram transformar rochas e mar em uma casa, com temperaturas estáveis e ciclos que se sucedem suavemente.
Em suma, as coisas viventes fizeram tudo aquilo que queremos fazer, sem se empanturrar de combustíveis fósseis, poluir o planeta ou hipotecar seu futuro. Que modelo melhor poderia haver?” O que a biomimética propõe é o redesenho da relação do homem-inventor com a natureza, abandonando a mera exploração de recursos naturais para buscar a inspiração. É possível acompanhar o percurso que a “vida” percorreu para chegar aonde está hoje, lembra Janine, pois os fracassos viraram fósseis. O que sobreviveu pode ser usado para tornar a presença humana na Terra mais sustentável.