Com queda dos custos e aumento da eficiência, produção de energia solar precisa ter mais apoio governamental, sugere o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Rezende

Uma das fontes de energia mais promissoras e que pode ganhar espaço cada vez maior na matriz energética brasileira é o Sol, destacou o físico e ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Machado Rezende, em conferência realizada no dia 23, durante a 65ª Reunião Anual da SBPC. Segundo o ex-ministro, enquanto a demanda energética mundial é de 150 terawatts-hora (150 milhões de gigawatts-hora), a energia total que chega à Terra vinda do Sol, em forma de ondas eletromagnéticas, é 10 mil vezes maior, ou seja, 1,5 milhão de terawatts-hora. “Mesmo que 30% desse total sejam refletidos pela atmosfera e 25%, consumidos em ciclos naturais (como o hidrológico, a fotossíntese e a geração de ventos, ondas e marés), quase 50% são simplesmente convertidos em calor – um enorme potencial ainda pouquíssimo explorado”, explicou Rezende.
“Talvez a maior esperança da geração de energia de base solar sejam as células fotovoltaicas”, analisou Rezende. Feitas de silício, elas transformam a radiação do Sol em corrente elétrica, que pode ser armazenada em baterias para utilização em dias de tempo ruim e à noite. Embora reconheça que os custos diretos da energia solar são maiores que os da hidrelétrica, Rezende ressaltou que esses custos vêm caindo, enquanto a eficiência do sistema aumenta. Em 1975, quando foi criado o primeiro painel solar, essa eficiência era de 1% e hoje chega a 44%.
Considerando a incidência solar e a eficiência de uma célula fotoelétrica normal utilizada hoje (cerca de 14%), é possível produzir o equivalente a toda a energia gerada no Brasil cobrindo com painéis solares uma área correspondente a apenas 2,5% da área total de Pernambuco, avaliou o ex-ministro.

Decisão política – Rezende afirmou que o maior impeditivo para a implementação dessa fonte energética no País é a falta de decisão do governo. “Não temos energia solar porque não queremos. Falta decisão política. Muitos países europeus que não têm nossa irradiação solar incentivam os moradores a instalar equipamentos, subsidiam sua instalação, dão descontos pela economia”, ressaltou. “Por isso, o Brasil está apenas em 28º lugar na produção de energia solar no mundo, com 27 megawatts produzidos, mil vezes menos que a Alemanha, a primeira no ranking.”
O ex-ministro destacou que é preciso tomar medidas para atrair o investimento privado ao setor, como foi feito com a energia eólica, setor que hoje conta com milhares de turbinas instaladas no Nordeste. “O crescimento da exploração da energia eólica aconteceu após o primeiro leilão desse tipo de energia realizado no País, em 2009, que tornou o mercado mais interessante para a iniciativa privada.”
Rezende propôs baratear a instalação de painéis solares, por meio do estímulo à produção nacional ou da criação de mais facilidades para a importação. “Em geral, os equipamentos precisam ser comprados de países como China, Japão, Alemanha e Estados Unidos, com altas taxas, que poderiam ser abrandadas”, avaliou. “Ou, considerando que o Brasil é um dos maiores produtores de silício do mundo, poderia haver um incentivo à produção nacional.” Ele lembrou que o País já teve uma empresa do ramo, na década de 1970, que faliu justamente pela falta de compradores e de incentivos públicos.
Para o ex-ministro, os carros elétricos são a proposta de mudança futura. Embora ainda apresentem algumas limitações, como o tempo de abastecimento mais longo, esses veículos já são uma realidade. “Eles têm muitas vantagens, como a eficiência de seus motores, que chega a 96%, contra cerca de 20% dos motores tradicionais”, analisou Rezende. “O ideal é que sejam associados com fontes de energia ‘limpas’, como a solar. Poderíamos ter, por exemplo, estacionamentos cobertos por painéis solares, onde o carro pudesse ser recarregado com a eletricidade produzida. Seria um sistema muito sustentável.”

http://espaber.uspnet.usp.br/jorusp/

 

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