O Biokreto é uma mistura de cimento com bambu moído e outras fibras vegetais como casca de arroz, bambu, sisal ou partículas de eucalipto pode ser empregado na fabricação de blocos de concreto, calçadas, muros e outros tipos de alvenaria. O material pode ser empregado em pavimentos, bancos, jardineiras, telhas onduladas, coletor solar e placa hexagonal. O trabalho de pesquisa é do engenheiro agrônomo Antonio Ludovico Beraldo, do Departamento de Construções Rurais da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp que é morador de Paulínia

Segundo o pesquisador, o bambu e a casca de arroz podem entrar como componentes destes materiais, barateando custos. “Estes resíduos geralmente seriam incinerados ou descartados”, explica o pesquisador. Beraldo informa que o material vem sendo testado desde 1994. O objetivo é encontrar uma destinação para resíduos de serrarias e de beneficiamento de arroz. O Biokreto também já foi testado na Unicamp, em artefatos de cimento como jardineiras, abrigos para animais, canaletas para condução de água e outros, mas os testes em Paulínia são os primeiros fora da universidade. O engenheiro informa que a economia de material é de aproximadamente 30%.

A utilização de fibras vegetais, de forma isolada ou em mistura com outros materiais, data de muito tempo. Para reduzir a presença de fissuras em tijolos queimados ao sol e de torná-los mais leves, diversos povos recorriam às fibras vegetais. A madeira também é uma das matérias primas mais abundantes na natureza. No entanto, uma grande quantidade de espécies florestais não são valorizadas suficientemente, do mesmo modo que os resíduos provenientes das serrarias, das indústrias moveleiras e de transformação não encontram utilização adequada, destinando-se normalmente à geração de energia, ao recobrimento de pisos de aviários e para fins hortícolas. Parte dos resíduos é simplesmente queimada ou colocada em locais públicos, agravando de forma acentuada a questão ambiental. Segundo estudos do engenheiro florestal, o Biokreto apresenta várias vantagens em relação ao concreto comum, como disponibilidade de matérias primas, como bagaço de cana, bambu, madeiras, resíduos agrícolas, entre outros; leveza, com redução do peso em relação ao concreto comum; resistência aos agentes biológicos; facilidade de ser moldado ou cortado e resistência ao choque.

O projeto do Biokreto foi desenvolvido dentro da linha de pesquisa “Construções Rurais e Ambiência”, que inclui, entre seus objetivos, estudos relacionados à resistência e ao comportamento estrutural de materiais convencionais e alternativos para construção de instalações rurais e obras de infra-estrutura e de solo. De acordo com Beraldo, no Biokreto, a pedra britada (matéria prima para fazer o agregado que compõe o cimento) e, eventualmente em alguns casos, a areia, são substituídas por um material de origem vegetal, isto é, resíduos como o bambu, a casca de arroz, bagaço de cana, o pó de serra e a fibra de coco, entre outros resíduos agrícolas. Conforme o resíduo aproveitado, obtém-se um produto mais adequado para determinadas aplicações.

De acordo com Beraldo, no caso do bambu, que é mais fibroso, o produto advindo de seu aproveitamento é mais adequado para a fabricação de telhas. Já a casca de arroz é mais adequada para a fabricação de blocos vazados, canais para irrigação, pisos e calçadas. O pesquisador alerta que esses resíduos têm alguns componentes químicos que precisam ser neutralizados, para que possam ser utilizados. “Alguns materiais dispensam tratamento. Mas o bambu, por exemplo, tem açúcar, e então recomendamos que a pessoa que vai utilizá-lo, ferva-o antes ou deixe-o numa solução com cal durante 24 horas, para retirar açúcares. No caso da casca de arroz, o principal problema é a gordura”, explica Beraldo, referindo-se às alternativas para o meio rural. De um modo geral, as partículas de diferentes vegetais não podem ser misturadas diretamente com o cimento, pois a ocorrência de um fenômeno denominado “incompatibilidade química madeira – cimento” pode impedir a obtenção do Biokreto de boa qualidade. No momento de desmoldagem o material pode até desintegrar totalmente, devido à presença de substâncias nocivas ao cimento (principalmente açúcares). Recomenda-se, inicialmente, fabricar o Biokreto com partículas vegetais ao natural e após a lavagem, para constatar os possíveis efeitos da lavagem.

Apesar do Biokreto ser constituído essencialmente pela mistura da pasta de cimento e pela substituição do agregado graúdo (brita ou pedregulho) por partículas vegetais, em certos casos, pode-se, inclusive, eliminar igualmente o agregado miúdo (areia). Evidentemente, os materiais assim obtidos apresentam comportamento físico-mecânico muito diferenciado, sendo, portanto, indicados para diferentes aplicações. O Biokreto pode ser utilizado na fabricação de tijolos maciços prensados à mão, e devidamente curados. Testes realizados em laboratório mostraram que o Biokreto pode apresentar o dobro da resistência do tijolo cerâmico maciço, e, no mínimo, quatro vezes a de um tijolo cerâmico vazado (“baiano”).

Outra vantagem do Biokreto destacada por Antônio Beraldo é sua leveza.“Em placas feitas pela indústria com este material, conseguimos a redução de 5 quilos do seu peso habitual. Isso quer dizer que um caminhão poderia transportar mais placas com menos peso”. Em comparação com o concreto comum, o Biokreto apresenta ainda resistência a agentes biológicos, resistência a choques e facilidade para ser moldado. De acordo com o pesquisador, há uma série de pesquisas que vêm trabalhando com a idéia de aproveitar resíduos para a confecção de novos materiais de construção. “Na USP, por exemplo, existe o fibrocimento que utiliza pedaços de fibra de coco e de sisal”, diz ele. Na Unicamp, os compostos à base de resíduos vegetais têm sido tema de pesquisas que contam com os pesquisadores Wesley Jorge Freire, também da Feagri, e Luiz Alfredo Cottini Grandi, da Faculdade de Engenharia Civil da mesma universidade.

 http://www.agr.unicamp.br/biokreto/index.html 

 

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